quinta-feira, 21 de março de 2013

Poesia e Natureza...



A fermosura desta fresca serra,
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos ofrece,
se está (se não te vejo) magoando.

Sem ti, tudo m' enoja e m' avorrece;
sem ti, perpetuamente estou passando
nas mores alegrias, mores tristezas.

Luís de Camões, Sonetos





«Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?»

«Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?»

«Muita coisa mais do que isso,
Fala-me de muitas outras coisas.
De memórias e de saudades
E de coisas que nunca foram.»

«Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira, 
E a mentira está em ti.»

Fernando Pessoa/ Alberto Caeiro





MAR

I

De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

II

Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia, Caminho





Perante nós o oceano.
Imensos, inexplorados, os caminhos.

Barco sem leme, sem velas, sem quilha. Sem
remos.

Devagar. Mas seguramente. Lá iremos

Myriam Jubilot de Carvalho, E no fim era a poesia, Vega




Separador de texto retirado da NET.


segunda-feira, 18 de março de 2013

Mar de palavras, melodia de fonemas…


Quando ele se acercou de mim, estávamos em local concorrido de turistas. Jovem, alto, ar amável. Quereria alguma informação?
Falou-me em italiano. Respondi, com hesitação. Ensaiou nova tentativa: english?...
Reparei no seu saco cor de mar. Volumoso. Quereria vender-me algo?
Entretanto, ele continuava em busca da melhor forma de dizer ao que vinha, língua após língua… Percebi, já não sei dizer em qual delas, que pretendia contar-me uma história.
“Escritor? Venderia livros?”
- Não!
E seria pouco relevante perceber a língua - retorquiu ele, quando duvidei da minha capacidade de compreensão.
“É bem possível!” E crescia a minha curiosidade.
Perspicaz e poliglota, sem mais demoras, o improvisado contador de histórias desfiou um mar de palavras, gesticulou brevemente, recontou, recitou de cor, por vezes alongando o olhar para esgravatar o fundo da memória… Naveguei à bolina na sua voz. 
Apreendi apenas a melodia daquele mar de fonemas.  
Retive simplesmente a poesia deste encontro.
Agradeceu-me o sorriso: seria paga bastante, mas aceitou, sobre o seu barrete vermelho entre mãos, humilde e grato, modesta paga…
Eu cruzara-me, afinal, com um jovem mercador de coisa nenhuma, que seguiu semeando e colhendo sonhos…


Foto de um outro viajante, em diverso tempo e lugar...

NotaO mercador de coisa nenhuma, de António Torradoé um conto para crianças de todas as idades... 


quinta-feira, 14 de março de 2013

Poesia e música...

A voz de um poeta com sublinhado musical...




O 6º E da "Conceição e Silva", a Ler a meias...

Na Semana da Leitura da EB 2.3 Conceição e Silva, reencontrei-me também com o 6º E e sua professora de Português, Anabela Alves. (A 1ª vez acontecera no Mês das Bibliotecas Escolares.)
- Então, acabaram de ler Os ciganos, da avó Sophia e do neto Pedro? - quis eu saber. 
Difícil! O livro não tem parado na biblioteca; anda de mão em mão, sempre a ser requisitado...

Desta vez, mergulhámos num MAR de palavras.
A Nau Catrineta e A Bela Infanta...
Seguiu-se uma história de piratas. Pedi ajuda: «Qual querem? Um conto grande... ou um pequenino e divertido?»
- Grande - ditou a votação. Estava então escolhido o livro Princesas, príncipes, fadas e piratas com problemas.
- Querem Crispim, o pirata que tinha medo da água? (Riram...) Ou O pirata da barca do esquecimento?
A votação recaiu neste último, de Rui Zink. 
Atentamente, ouviram falar do barqueiro de Caronte e da moeda para pagar a última viagem... E escutaram longamente a história daquele rapaz cujo avô ia perdendo a memória e iria embarcar na barca do esquecimento... Ou seria apenas sonho? Afinal, o avô morreu ou não?
Falou-se da velhice e de como é preciso ginasticar o corpo e a mente: aprender coisas novas, fazer coisas que estimulem o cérebro... (Importante em qualquer idade!...)
Então, saltámos rapidamente para poesia de Fernando Pessoa - que mereceu palmas!
Demos ainda uma espreitadela a Os Lusíadas para gente nova...
E acabámos, alegremente, cantando O homem do leme.
Muitas emoções vividas em 90 minutos - que assim se esgotaram...
Vê se concordas!
«Por vezes oiço dizer, sobretudo por causa da crise económica, das guerras, dos desastres, das mudanças climáticas, que "esta vida é um inferno". Um Hades.
Não é. Posso garantir que não é. A vida é maravilhosa. E, a ser parecida com algo que não existe, então será com o Paraíso.
O Inferno, esse, é outra coisa. O Inferno é o esquecimento.
Felizmente aprendi com o tempo que até isso tem solução, e bem simples: não esquecermos, nós, o nome de quem gostamos.»
Rui Zink, O pirata da barca do esquecimento

Se queres conhecer a bibliografia, encontra-la aqui.
A notícia foi publicada no blogue da escola, aqui.


quarta-feira, 13 de março de 2013

O 5º B da "Conceição e Silva", a Ler a meias...


No 5º B, feitas as apresentações, começámos peldivertida  história de O pirata Muitabarba.
Espreitámos Os Lusíadas para gente nova.
Conhecemos um náufrago arguto, astuto e resoluto que se salvou da barriga escura, quentinha e fofinha de uma baleia... e ficou sem suspensórios!

Observámos como se caçavam estes cetáceos.
Com uma prancha de surf, sobre uma enorme onda, faz-se poesia...
Acabou-se ouvindo a voz do mar.
(Se queres conhecer a bibliografia, vê aqui.)

O projeto Levar, Ler, Libertar (da biblioteca escolar) teve lugar logo a seguir a esta sessão. Três meninos também muito resolutos e argutos descobriram os livros escondidos no pátio. (Coube-me ajudar a escondê-los... e depois ganhei um kit de ovos da Regina, para a minha própria caça ao tesouro! Obrigada, professora Ana Rodrigues! :-)

Tudo isto contribuiu para dar muita animação e alegria a mais este dia da Semana da Leitura - a todos nós! 
Gostámos muito.

Estava presente na biblioteca a Nicole, do 6º ano, que gosta muito de escrever e que registou, como num Diário, tudo o que aconteceu e observou. Se eu tiver acesso ao texto..., mostro-o.
A notícia do blogue da escola está aqui.



O 5º 7 e o 5º 11, a Ler a meias...

Feitas as apresentações, começámos pelos romances tradicionais A nau Catrineta e Bela Infanta... 
Seguindo a mesma onda, espreitámos Os Lusíadas.
O homem do leme veio mesmo a calhar... E o mesmo se pode dizer da história divertida de O pirata Muitabarba...
Entre Pinóquio (engolido por um tubarão...) e um náufrago (engolido por uma baleia), os jovens votaram neste último. António Sérgio: boa opção!
Com a ajuda da banda desenhada Moby Dick, observou-se como eram caçados os cetáceos. (Já não é permitido!)
Por fim, ficaram a conhecer as várias vidas do Rainbow Warrior, O Guerreiro do Arco-Íris, que ajudou a impedir muitos atentados ambientais.
Finalizámos com duas poesias de Cecília Meireles e escutámos o mar... (isto no 5º11). 


No 5º7, mergulhámos um pouquinho mais em Os Lusíadas e lemos alguns versos relativos à reunião dos deuses e ao início da viagem marítima para a Índia. 

Convidámos um poeta lusófono caboverdiano: Daniel Filipe. 
Lemos ainda poesia de Manuel Alegre.
Folheámos o Atlas dos Oceanos...
(Com isto tudo, nesta turma não foi lidRainbow Warrior.)
A professora de Português, Dinora Fernandes, gostou de ambas as sessões. 
A professora bibliotecária, Sara Cacela, mais uma vez me acolheu simpaticamente.
A seleção das obras ficou aprovada (vejam a bibliografia)
Gostei muito de tudo, também eu!...

Voltarei. Prometi à professora Gina Silva regressar no 3º Período... Não me esquecerei!


terça-feira, 12 de março de 2013

Na Semana da Leitura da "António" e da "Conceição Silva"

O projeto Ler a meias foi convidado a participar nas Conversas com livros, na EB 2.3 D. António da Costa, com alunos de 5º ano, durante a sua Semana da Leitura. E também a Mergulhar nas palavras na EB 2.3 Comandante Conceição e Silva, com 5º e 6º anos.
Por tema, o MAR...
Decidi previamente quais as obras que poderiam interessar a este público-alvo, em sessões ora de 45 ora de 90 minutos.
Esta seleção de obras pretendeu ser variada, tanto em géneros como em grau de dificuldade. Havia muitas leituras por onde optar e quero crer que todas atraíram fãs...
Concluo que resultou!
O 5º 7 e o 5º 11, da António, mostraram-se interessadíssimos. 
O 5º 1 e o 5º 10 também.
O 5º B e o 6º E, da Conceição e Silva, igualmente!... (e devo referir que, no 6º, o percurso foi mais exigente.)
Valeu a pena!...

Bibliografia: 

Ana Cristina Leonardo e outros, Princesas, príncipes, fadas e piratas com problemas (Pedro Sena-Lino - coord.), Porto Editora
Anita Ganeri, Atlas dos oceanos, DK/Civilização
António Sérgio, Na terra e no mar, Compendium
Carlo Collodi, As aventuras de Pinóquio, Caminho
Cecília Meireles, Ou isto ou aquilo, Editora Nova Fronteira
Herman Melville, Moby Dick (adapt. Gillon/Ollivier), Livraria/Editora Civilização
Manuel Alegre, Doze naus, Dom Quixote
Pinto & Chinto, Contos para meninos que adormecem logo a seguir, Kalandraka
Rocío Martínez, História do Rainbow Warrior, Kalandraka
Sophia de Mello Breyner Andresen (sel.), Primeiro livro de poesia, Caminho
Vasco Graça Moura, Os Lusíadas para gente nova, Gradiva
Xutos & Pontapés, As melhores canções para crescer, Oficina do Livro





quinta-feira, 7 de março de 2013

De regresso à biblioteca...

Um mês mais tarde, foi dia de voltar a ler a meias com os meninos do 4º ano da escola Feliciano Oleiro. (Ontem estive aí na vossa biblioteca, mas com outros alunos.)
O tema de Março era o Ambiente e, aproveitando a maré da Semana da Leitura,  demos primazia aos animais marinhos, à pesca (sustentável), a desportos náuticos; a barcos e navios; a navegadores e piratas..., enfim, ao MAR.

O búzio trouxe o som do Oceano ao 4ºA... e o 4º B reproduziu o seu falar e o canto do vento... 
Mais uma sessão de partilha de histórias, poesias e informação, cheia de conversas e prazer.

Aqui fica a fotorreportagem.

4º A: 
4º B: 

Ai, ai, ai!!!!
Esquecemo-nos de fazer a avaliação!!!
...E agora...
Agora, adeus!...
Até Abril!

Boa Páscoa!
Boas férias!...

quarta-feira, 6 de março de 2013

Ler a meias... na escola Feliciano Oleiro

Já se passou um mês... Portanto, foi dia de voltar.
O tema de Março era o Ambiente. 
Desta vez, demos primazia aos animais marinhos, à pesca e cadeia alimentar..., a barcos e navios..., enfim, ao mar.
O 4º A da escola Conde de Ferreira chegou - e partiu - entusiasmado.
Por acaso, e por acordo, o 4º B cedeu a vez ao 3º A da professora Manuela Soares (minha ex-aluna, no seu 5º e 6º anos!, há muitos, muitos anos...). 
Um reencontro das professoras e uma novidade para aqueles meninos!

Vejam a fotorreportagem.


4º A:


3º A:


Antologia poética


VAGABUNDO DO MAR

Sou barco de vela e remo
sou vagabundo do mar.
não tenho escala marcada
nem hora para chegar:
é tudo conforme o vento,
tudo conforme a maré…
Muitas vezes acontece
largar o rumo tomado
da praia para onde ia…
Foi o vento que virou?
foi o mar que enraiveceu
e não há porto de abrigo?
ou foi a minha vontade
de vagabundo do mar?
Sei lá.
Fosse o que fosse
não tenho rota marcada
ando ao sabor da maré.
É por isso, meus amigos,
que a tempestade da vida
me apanhou no alto mar.
E agora queira ou não queira,
cara alegre e braço forte:
estou no meu posto a lutar!
Se for ao fundo acabou-se.
Estas coisas acontecem
aos vagabundos do mar.

Manuel da Fonseca



segunda-feira, 4 de março de 2013

Numa Comunidade de Leitura...

Aconteceu hoje, na Escola Fernão Mendes Pinto.
Na abertura da Semana da Leitura, a biblioteca escolar deixou-se invadir por uma maré alta de leitura, durante 90 minutos.
Participou a Comunidade Escolar e não só: abriram-se portas ao exterior, nomeadamente à USALMA (Universidade Sénior de Almada). Deste modo, várias gerações se uniram para partilhar poesia, narrativas, informação.
Logo à entrada, jovens nos segredaram excertos de poemas, através de sussurradores... Tão bem! E no acolhedor anfiteatro contíguo, com um cheirinho a mar, foi também gente da casa a iniciar e a encerrar esta maré.
O plano parece simples: pediram-nos previamente que selecionássemos um excerto de uma obra, de entre uma lista sugerida, para dois minutos de leitura (aproximadamente). Depois, que as leituras se seguissem como numa verdadeira maré viva, sem interrupções nem palmas... 
Leitores convidados houve que usaram da liberdade de apresentar textos e poemas de outros autores ou mesmo de sua autoria. Pelo sim pelo não, também ali não faltavam poemas à disposição de alguém que nada levasse para ler...
Resultou plenamente!
Houve ainda tempo para repetir e prolongar algumas leituras. Para trocar impressões. Para proceder à avaliação da sessão. E para despedidas.
Felicito a iniciativa. E agradeço à professora Carla Crespo o seu convite.