quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Histórias bem humoradas...

Há gelo no alto das montanhas. 
Sabes porquê?
Vou citar o que li... como prometi aos meninos do 6º ano da EB 2.3 Conceição e Silva.
(Uma prenda, esta aparente lenda... sorridente...)



A montanha


A primeira montanha que houve no mundo era uma montanha muito ambiciosa. A primeira montanha que houve no mundo queria ser ainda mais alta do que já era. Começou a crescer, a crescer, a crescer, e cresceu tanto que deu com a cabeça na Lua. A montanha ficou com um galo enorme, e pôs gelo para aliviar.
É por isso que hoje as montanhas mais altas têm gelo no cume.



Pinto & Chinto, Contos para meninos que adormecem logo a seguir, Kalandraka



David Pintor (Pinto) escreveu
Carlos López (Chinto) ilustrou

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Ler a meias... através do tempo...

Hoje, na E B 2.3 Conceição e Silva, o desafio era mediar leitura em duas turmas de 6º ano, pegando no lema do Mês das Bibliotecas Escolares 2012: «Biblioteca, uma chave para o passado, presente e futuro.»
Para mim, era ponto assente percorrer as três eras:
  • Passado: livros manuscritos, com iluminuras; livros impressos e encadernados a couro; contos tradicionais, provérbios e lendas...; clássicos, nomeadamente de um passado recente... Património oral e papel. Alguns objetos em desuso, tais como a cassete ou a velhinha disquete (que já ninguém reconheceu)!
  • Presente: variedade de autores, mais ou menos jovens, e múltiplos suportes: livros, e-readers, computadores... CDs, DVDs, pen...
  • Futuro: uma incógnita. Os autores deixam-nos a sua obra, mas quais deles continuarão a ser publicados e lidos? Uma coisa se sabe: os contos tradicionais permanecerão. Em livro ou e-book"O futuro a Deus pertence", diz o Povo. Neste caso, depende ainda dos homens e das tecnologias...
Criar uma caixa-mistério, com uma gaveta para cada época, foi uma solução prática e engenhosa que suscitou o interesse geral.
O apelo à imaginação foi feito com a ajuda de Manuel António Pina: 

Basta imaginar, 
um pássaro para o aprisionar,
e depois imaginar o ar para o libertar
e imaginar asas para ele voar
e imaginar uma canção para ele cantar.


A imaginação dos jovens ganhou asas ao tentarem adivinhar o que era aquilo que ali estava tapado... O mistério foi-se desvendando à medida que cada gaveta foi aberta... 
E ao mesmo tempo desfiaram-se leituras, histórias sobre os autores e sua época e muitas conversas... Mais não porque eram só 90 minutos!   
Os jovens presentes tinham fama de agitados. A verdade é que se deixaram seduzir... Renderam-se à  curiosidade... Desfrutaram do prazer de ver, ouvir contar, escutar excertos, antecipar finais...
Quais as obras? 
Esclareço que fiz sugestões muito diversas: para leitores e não leitores, para quem gosta de humor ou de temas mais sérios... Ei-los (poucas diferenças houve, de turma para turma): 
  • Afonso Cruz, Os livros que devoraram o meu pai, Caminho
  • Álvaro Magalhães, O livro que se lê de olhos fechados, ASA
  • António Torrado, A nau Catrineta, Civilização
  • Ilse Losa, A minha melhor história, Editora Nova Crítica (ou O mundo em que vivi, Afrontamento)
  • José Fanha, A namorada japonesa do meu avô, Gailivro
  • Manuel António Pina, O pássaro da cabeça, A regra do jogo
  • Miguel Sousa Tavares, O planeta branco, Oficina do livro
  • Pinto & Chinto, Contos para meninos que adormecem logo a seguir, Kalandraka
  • Sophia de Mello Breyner Andresen e Pedro Sousa Tavares, Os ciganos, Porto Editora
Sophia encantou a plateia, com o seu conto recentemente publicado. Sem termos lido o final escrito pelo seu neto Pedro Sousa Tavares, Os Ciganos deixaram sementes de escrita.
Foi muito gratificante esta manhã, passada na minha escola e na minha biblioteca!
(Notícia aqui.)

Nota final: Acabei ontem de fazer, na Biblioteca Municipal de Palmela, uma formação de cerca de 6 horas, Maletas itinerantes  - valor educativo-pedagógico, a qual me ajudou na preparação desta sessão. Sem dúvida que a solução das gavetas me resolveu o problema logístico do entrecruzar de várias eras... 
Agradeço aos seus organizadores: RBE, SABE de Palmela, Serviço Educativo do Museu Municipal de Palmela e ENA. E, em particular, à "Xana das Gavetas".
(Fui pesquisar informação sobre a Xana. Aqui está!)


sábado, 13 de outubro de 2012

Vamos escrever a meias? Se eu fosse um livro...

(imagem da NET)

No Ler a meias...os alunos foram convidados a observar ilustrações de André Letria, do álbum Se eu fosse um livro, sem conhecerem o respetivo texto, de José Jorge Letria.
Soltaram a imaginação e queriam dizer muitas, muitas frases... E assim escrevemos a meias. Verdade seja dita: eles disseram e a professora Mafalda Rodrigues registou. 
Agora é a vez da Mediadora deixar aqui gravada a nova obra!
Convidamos todos a lê-la, incluindo os autores (pai e filho), a quem damos os parabéns pela sua obra original, pedimos autorização para a usar e agradecemos...

                              4ºA da EB1Conde de Ferreira, da profª Isabel
                              4º B da EB1Conde de Ferreira, da profª Inês
                              4ºA da EB1 Feliciano Oleiro, da profª Mercedes
                              4º B da EB1 Feliciano Oleiro, da profª Conceição 


Se eu fosse um livro...

1 Se eu fosse um livro... 
...gostava de ser misterioso.
…de ter um milhão de informações dentro de mim.
…gostava que o leitor entrasse dentro de mim…
…que encontrasse uma passagem secreta
…e que me lesse todo.
…gostava de ser lido muitas vezes.
…queria ser o rei dos livros!

2 …gostava que nenhum cão me estragasse.
…queria contar histórias da natureza.
…e saber muitas coisas sobre animais.

3 …Queria que me levassem à rua e me tratassem como um animal de estimação.
 …não queria ser arrastado pelo chão.

4 …gostava de andar com o leitor para todo o lado.
…de lhe fazer companhia em todas as viagens.
...não queria ser atirado para um canto, de qualquer maneira.

5 …queria ser levado para onde as pessoas gostassem de ir.
…não queria ficar à chuva e ao vento como uma tenda.
…gostava que me lessem toda a noite, à luz do luar e das estrelas.
…gostava que dormissem comigo.

6 …gostava de ser uma escada com muita informação.
…gostava que subissem as minhas escadas que são os meus capítulos.
…gostava que me subissem para me lerem todo.
 
7 …gostava que me agarrassem para me ler, sempre que pudessem.
…gostava que caminhassem entre as minhas palavras.
...gostava que me fizessem cócegas.
…gostava de conhecer bem o mar e ir lá buscar letras para contar histórias bonitas.
…gostava de contar histórias de terror.

8 …gostava de ser um diário bem fechado.
…e bem guardado num estojo.
…mas queria ser aberto.
…queria que me lessem em silêncio.

9 …gostava de me proteger com uma capa como faz o caracol.
…gostava de ser lido devagar…
…gostava de ser lido em casa, calmamente.

10 …gostava que me abrissem e me deixassem falar
…não gostava de contar histórias que metessem medo.

11…gostava de ser um labirinto de palavras que toda a gente lesse.
…queria que me tivessem em todas as casas.
…não gostava que todos fossem iguais a mim!
…queria ser popular!
…gostava de viver na cidade dos livros, que é a biblioteca.
...queria ser um Centro Cultural.

12 …queria que navegassem em cima de mim para aprender mais.
...queria que mergulhassem muito fundo para ler as minhas palavras.
…gostava de ser como uma piscina cheia de histórias.
…não queria cair à água.

13 …gostava que brincassem comigo.
…gostava de voar.
…e ser lido no ar...
…gostava que os pássaros também me lessem.

14 …gostava de estar num jardim de livros.
…gostava de crescer muito!
 …gostava de ser lido pelas flores.
…gostava que me tratassem como a uma flor.
…gostava de multiplicar as rosas do jardim.
…gostava de ter em mim histórias lindas como rosas.

15 …gostava de ser o mar.
…navegado pelos marinheiros.
…que navegassem nas minhas páginas.
…e descobrissem coisas novas.

16 …gostava que quem me lesse iluminasse as minhas páginas.
…e gostava de iluminar as pessoas que me lessem.

17…gostava de voar, voar e ver o mundo.
…gostava de escrever sobre o ar.
 …gostava que os aviadores me levassem para me lerem nas suas viagens.
…gostava que voassem nas minhas letras.
…gostava de passar por entre as nuvens para as gotas me lerem.
…e gostava de ser lido pelo vento.

18 …gostava que cuidassem de mim.
…queria ser um livro com muita informação para varrer as respostas erradas.

19 …gostava de ser grande.
…que fossem curiosos para me lerem.
…que as pessoas me lessem com atenção.
…gostava que o leitor ficasse preso a mim.
 
20 …gostava de estar preso para não me perder.
…não queria ser roubado.
…não queria ficar amarrado.
…gostava de ser lido sempre no mesmo lugar.
…gostava de ter o leitor colado a mim.
…queria que me recordassem.

21 …gostava de contar histórias de cavaleiros.
…gostava de ser um cavalo para me montarem e me conhecerem melhor.
…gostava que me cavalgassem para me lerem.
…queria cavalgar ao vento.
…gostava que se divertissem com as minhas histórias.

22 …queria ser um comboio de histórias.
…gostava de transportar todas as pessoas.
…gostava que me lessem na estação e durante a viagem.
…gostava que viajassem nas minhas palavras.

23 …gostava de ser um castelo e sentir-me protegido.
…gostava que muita gente vivesse em mim.
…gostava de me defender de quem me quisesse fazer mal.
…gostava que lutassem por mim, para ficarem comigo.

24 
"Se eu fosse um livro...
...não me importava de ir para uma ilha deserta com um leitor apaixonado."

 25 …gostava que me ligassem a um computador e que me lessem.
…ou então a outro ecrã qualquer: iPad, telemóvel...

26 …gostava de ter montanhas de informação.
…e que os leitores subissem até ao topo.

27
 "...gostava de ouvir alguém dizer: Este livro mudou a minha vida."


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Recomeçámos a Ler a meias...

Outubro. Regressei à mediação de leitura.
Aconteceu ontem e hoje na biblioteca escolar da escola Feliciano Oleiro. Quatro turmas de 4º ano: duas desta escola e outras duas da escola Conde de Ferreira, que fica situada mesmo em frente (uma escola com 146 anos)! 
Tratando-se da 1ª sessão, foi dia de apresentações; o momento para falar dos nossos futuros encontros mensais e dos temas que poderemos abordar, se não surgirem novas propostas...
O que é um VoluntárioO que é um Mediador de leitura?... Para quê, Ler a meias...?
A propósito de livros: capa, contracapa, lombada, ficha técnica?...; autor, ilustrador, editor?...  (Os meninos sabiam muita coisa.)
Tínhamos ali à mão livros de vários géneros. Histórias tradicionais portuguesas, poesia e informação...
Em todas as turmas, foi mais ou menos assim:
- Recontei A nau Catrineta..., como uma contadora de histórias... (mas servindo-me das ilustrações de Maria João Lopes).
- Li o poema Antigamente.
- Recordámos por que razão foi feriado no passado 5 de outubro...
- Por fim, todos observaram as ilustrações de André Letria, do seu premiado álbum Se eu fosse um livro. E os meninos criaram oralmente legendas para cada ilustração... (A professora Mafalda Rodrigues registou-as todas!)
José Jorge Letria irá certamente apreciar!
-Gostaram? Querem que eu volte? - perguntei, à despedida.
A resposta foi invariavelmente a mesma:
-SIIIIIIM!...
Voltarei. Até à próxima!



 Livros utilizados:

  • António Torrado, Histórias tradicionais portuguesas contadas de novo, Civilização, 2002
  • José Jorge Letria e André Letria, Se eu fosse um livro, Pato Lógico, 2011
  • Luísa Ducla Soares, A cavalo no tempoCivilização, 2003
  • Luísa Ducla Soares, O livro das datasCivilização, 2009

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Uma escola (quase) centenária...

O edifício está lá, no Centro Histórico, restaurado, como novo.
Na fachada, lê-se: Biblioteca Municipal de Palmela. Distraidamente, podemos não observar a traça. E não reconhecer esta antiga escola, do tempo da República, que hoje em dia alberga a biblioteca, bem ativa, por sinal. Uma placa impede que este facto passe despercebido. Contém informação tão completa que inclui mesmo um antigo retrato, a preto e branco. Rostos de meninas que tiveram o privilégio do direito à educação, graças aos ideais e valores culturais republicanos. Investimento arrojado na época, sem dúvida. Com visão de futuro. Com utilidade no passado, presente, futuro...
(Tal como alguém afirmou, quem acha que a educação sai cara, compare com o custo da ignorância...)
E, já agora, recuso-me a admitir a abolição deste feriado!

Foto: Biblioteca Municipal de Palmela, 5 de outubro de 2012
Um agradecimento ao fotógrafo: Joaquim Chaves 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Em demanda do mirandês…



Andei recentemente por Miranda do Douro. Como qualquer turista, com a planta da cidade na mão, caminhei ao longo da muralha pré-românica, visitei o castelo, percorri ruas e largos, observei monumentos e edifícios, entrei aqui e acolá, desci ao cais, fui admirar Miranda da outra margem do Douro… e subitamente entrara em Espanha! Deliciei-me com uma posta mirandesa. Comprei amêndoas e figos secos. Ouvi bombos e gaitas-de-foles, em música bem alegre e ruidosa… Faltou cruzar-me com pauliteiros, o que a curta visita não proporcionou.
Levava a curiosidade de perceber até que ponto a língua local ganhara relevo no quotidiano da cidade, volvidos quase 14 anos desde que recebeu o estatuto de 2ª língua oficial portuguesa. De ouvido à escuta, raras foram as conversas que escutei em mirandês. Nomes de restaurantes e lojas, exibem-se em português. Nomes das ruas e placas turísticas informativas, no Centro Histórico – estes sim, bilingues.
Queria saber mais. Comecei por falar com a Inês, aluna do 5º ano, de sorriso largo e olhar amistoso. Contou-me que aprende mirandês desde que entrou no Jardim de Infância. Agora que frequenta o 2º ciclo, tem todas as disciplinas que têm os meninos do seu país e, como opção, também Mirandês. Toda a turma escolheu mais esta disciplina; só dois colegas não.
- E em que momentos falas tu o mirandês, Inês?
- Falo com os meus avós, nas aulas e, às vezes, no pátio, quando brinco com os meus colegas.
Pedi à Inês que me dissesse algo nessa 2ª língua, o que ela fez, alegremente. Compreendi. Língua românica como o português..., denunciadora da proximidade de Espanha, sem dúvida.
A funcionária do Turismo, percebendo o meu interesse, encorajou-me a percorrer as aldeias da região, onde o mirandês é comummente ouvido, ao contrário do que sucede na cidade.
Na Biblioteca, nova opinião… Que sim, mas que as aldeias se desertificaram. Que há novos moradores vindos de todo o lado e o mirandês não é tão ouvido como dantes. «Era uma língua de cariz popular, usada em família e na comunidade, para falar das alfaias agrícolas, dos animais, enfim, da vida… Transformou-se. Era oral e hoje é escrita. Era uma língua do Povo; hoje é uma língua de eruditos que a estudam e registam (e que nem sempre concordam entre si). Enriquecem-na com novos termos para novas realidades dos novos tempos. E já não parece a mesma!… Há um programa de rádio em mirandês, mas como soa diferente da língua dos nossos avós!»
Três testemunhos. Três pontos de vista com que a repórter às três pancadas satisfez a sua curiosidade.
Pareceu-me prometedor o futuro da 2ª língua portuguesa, ao conversar com a Inês: se já as novas gerações a aprendem e usam, para comunicar entre si!… Quanto aos avós, continuarão a falar com netos e vizinhos, a seu jeito, perpetuando a sua língua despretensiosamente, como sempre - assim dure a vida!… Os eruditos tudo farão para a dicionarizar, inscrever numa gramática, preservar. Afinal, todas as línguas vivas mudam consoante tempos, influências e vontades…
A língua mirandesa resistiu a ditadura e repressão. Não sobreviverá mais facilmente agora?!…
Se dúvidas persistem, o tempo as resolverá...