sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Livro da vida? Não?!...

Imagem da NET

Desafiaram-me (a mim e não só) para ser fotografada falando do livro da minha vida. Um projeto muito interessante e ambicioso, em jeito de trabalho final de um curso de fotografia... 
Sonhos e persistência não faltam à minha amiga e (experiente) fotógrafa!
O desafio era para mim irrecusável. 
Dificuldades, havia só uma..., imperiosa e suficiente para me impedir de participar: "Livro da vida? Não tenho!"... 
Comprometi-me a procurar algum livro que, de algum modo, em um qualquer momento da vida, tivesse sido para mim essencial... E a minha resposta nada tinha de vago: "Não, não e não"... e permanecia imperturbável, apesar do prazo que se ia esgotando...
...Literatura Portuguesa? Lusófona? Europeia? Daqui ou de Além-Mar?... Poderia ser Literatura Infantil? Os meus lidos e relidos Contos de fadas?... ou a coleção da Condessa de Ségur? (Hei de reler estes últimos para tentar perceber por que gostava eu tanto deles!) 
Enfim, o relógio avançava e nem o pânico da última hora me resolvia a situação. 
Depois, aconteceu... Uma vez, outra vez... Fiquei atenta.
Concluí:
Em momentos do quotidiano, reais ou relembrados, recordo poemas; mais precisamente, frases. Palavras. Lembro-me de livros e leituras que partilhei algum dia com alguém, algures... 
São geralmente versos que me ficaram gravados com a força de provérbios... Assomam ao consciente em certas ocasiões, sem pré-aviso e, por seu lado, transportam memórias de vida. Às vezes sei-lhes a música de cor e esses versos saem inteiros e límpidos; outras vezes, reproduzo a sua mensagem e, de passagem, corrompo-lhes a letra... 
Continuava sem saber qual o livro, mas tinha já "terra à vista" no horizonte.
A partir de então, foi fácil improvisar o "livro da vida" . Dos versos se refazem poemas (pesquisando-os rapidamente no Google ou indo à estante - os livros agradecem)... e uma Antologia Poética pessoal constrói-se. O tempo era já pouco; a recolha ficaria inevitavelmente inacabada, mas ainda assim deu lugar à respetiva impressão, prontíssima para usar à hora marcada.
A sessão fotográfica foi recheada de cliques e de palavras. Versos ditos ou lidos. Pedaços de poemas ou de prosa poética associados, de facto, à forma como sinto o palpitar da vida.  
A fotógrafa, por detrás da lente que se interpunha entre nós, devotava-se ao retrato e também à poesia. (Parecia.)
Um tempo repleto de prazer e partilha de Literatura; poesia com uma pitadinha de filosofia, dando voz aos meus Poetas...  
Um momento "inspirador", segundo a minha amiga. Intenso e inesquecível para mim...

«Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço.
..»

«A vida é feita de nadas»

«Quando eu nasci, (...)
Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe…»

«Eu sei que te traí, mãe. (...)
Boa noite.  Eu vou com as aves

«E tudo era possível. Era só querer.»


«Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!»

«São de nada tempestades
Ante a falta que me fazes»

«Quero de ti o que for simples
um aceno um postal
o teu nome numa concha
...»

«O sonho comanda a vida»

«Partimos. Vamos. Somos»

«Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!»

«Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio»

«enquanto um de nós estiver vivo seremos
sempre cinco»

«Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar


«Em qualquer aventura
O que importa é partir, não é chegar


António Gedeão
David Mourão-Ferreira
Eugénio de Andrade
José Luís Peixoto
José Régio
Miguel Torga
Ruy Belo
Sebastião da Gama
Sophia de Mello Breyner
Vasco Gato
E ainda Almada Negreiros (A flor). 
Antoine de Saint-Exupéry (O Principezinho)...

Fotos no Canto dos Leitores de Maria Teresa Teixeira.

3 comentários:

Anónimo disse...

O livro da vida
é tudo o que fica, sob forma de poema, residente no coração.
Excelente texto, lindo multipoema.
Parabéns
Joaquim

por um fio disse...

Tão bonito este texto, Manuela! Relembra bem as horas que passámos juntas e que voaram. Sim, houve muita poesia entre ambas, mas para mim foi sobretudo o deleite com que registei as suas expressões de alegria e de paixão pelo "Livro da sua vida", que foi um, mas acabou por ser outro e outro... Também não me foi nada indiferente o sítio onde nos encontrámos para esta conversa. Saudades desses tempos!

Anónimo disse...

"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente."(Mário Quintana)
Bons tempos aqueles, bons tempos estes. Vivamos tudo com o mesmo entusiasmo!... 😊🤗
Manuela