sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Imagina como seria...

"(...) sempre que o Homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança.»
António Gedeão




De Nordeste a "Oriente", porque é Natal...


A camioneta de carreira avançava, tão apressada quanto podia. Partira com significativo atraso. O limpa-neves demorara longo tempo a tornar as vias transitáveis… Só então saíra finalmente da estação o primeiro carro e entretanto todo o serviço se acumulara. Para mais, sendo época de muitos passageiros ou não fosse antevéspera de Natal.
A estrada nada fazia temer, mas o gelo que ainda se amontoava nas bermas aconselhava prudência ao motorista.
Os passageiros do Norte ignoravam, indiferentes, a paisagem. Tão pouco se deixavam surpreender pelo entusiasmo dos do Sul que, clic, clic…, não resistiam a mais uma fotografia que logo seria partilhada por telemóvel… E em breve legendavam-na, de viva voz: “Caiu tanta neve! Está tudo branco! Tão bonito!...” Tão maravilhados se sentiam que se esqueciam do desejo de chegar ao destino.
Os outros não. Na sua grande maioria, eram idosos, muito idosos. Seguiam viagem com vontade de permanecer em suas casas, junto da braseira, tranquilamente. Vinham de uma aldeia perdida na serra, já cansados de transbordos e longas esperas nas paragens, carregando sacos e saquinhos de mão, mais o saquito de viagem, uma caixa de papelão e outro saco de rede com couves da horta para a Consoada… Não fosse a insistência dos filhos bem como o desejo de estar junto deles no Natal e, seguramente, não estariam ali. Cheios de vontade e pressa de alcançar o destino, iam-se lamentando da viagem: «Eles, sim, eles é que deviam vir cá acima, como é costume…  Mas não quiseram vir, as estradas estão perigosas, as crianças… Eu é que já não tenho idade para isto!...»
Neste ponto, estavam todos de acordo.


O Sol mal conseguira romper as densas nuvens, durante aquele curto dia de Inverno. Agora despedia-se. Intensificavam-se o cansaço e a impaciência, à medida que anoitecia. Disso eram prova as constantes espreitadelas para o relógio e o contínuo cálculo do atraso previsto que, apesar da chuva e das  obrigatórias e necessárias paragens, por sorte se ia tornando cada vez mais reduzido.
Por fim, a estação Oriente - o final da viagem. Carros parados com luzes de perigo, braços à espera de pais idosos e dos sacos e saquinhos, caixas de papelão e sacos de rede com couves da terra para a Consoada - que subitamente se espalharam no cais, mal estacionou o autocarro e foi aberta a bagageira, a abarrotar…
Passos apressados. Vozes alegres. Dúvidas desfeitas. Lágrimas felizes. Abraços. Rodas chiando. Sacos arrastados com esforço. Ensaios para tudo caber nos porta-bagagens. Trás! Objectivo atingido, num abrir e fechar de olhos.
Despindo singelos casacos negros de malha, um a um iam entrando nos carros dos familiares que os haviam esperado e que rapidamente iam partindo. 
«Chegámos!» - pensavam, felizes, quase esquecidos do cansaço.
O cais regressava por fim à calma fria. Outros passageiros chegariam mais tarde. Tudo por um convívio familiar, em mais um Natal...

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Natal, História e Sociologia...


25 de Dezembro, anteriormente ao Cristianismo, era já tempo de festividade: celebrava-se o nascimento do Sol Invencível, o deus-Sol que renasce no solstício de Inverno.

À antiquíssima festa pagã sobrepôs-se, há cerca de dois mil anos, a festa cristã do nascimento do Menino-Deus.


A religiosidade faz parte da nossa herança cultural. Os presépios que, nesta época do ano, proliferam nas nossas casas, nas montras e em plena rua, comprovam-no; por outro lado, assim se apela a que não nos esqueçamos do significado atribuído, de longa data, a esta data...


Contudo, a forma como se comemora o Natal, nos nossos dias, revela bem que nas nossas sociedades, cada vez mais laicizadas, novos valores se sobrepõem à tradição religiosa.


O sociólogo Moisés Espírito Santo analisa: «A felicidade individual é, hoje, um objectivo primordial. O nascimento de Jesus é como que um antigo símbolo do “Eu, indivíduo” cujo objectivo na vida é “ser feliz”.»
E acrescenta: «Actualmente, o principal símbolo do Natal é a família. Vem depois a ideia de solidariedade humana, em que os indivíduos, com as suas diferenças estatutárias, se projectam como uma grande família humana. Há assim uma vontade de refazer a sociedade, mais igualitária, mais justa, e de relançar a fraternidade. (…)»
Não surpreende a sua conclusão: «O materialismo (comércio, consumo, etc), próprio desta época do ano, deriva da simbólica sociológica da “oferta”, num projecto de “fraternidade”.»


Convenhamos: renascer, reunir a família, recriar o social – é um projecto só por si muito amplo..., demasiado vasto apenas para um Natal.


Oferecer… o quê, como? Há tanta forma de se ser fraterno e solidário, no nosso dia-a-dia!


Tornar feliz, sem dúvida. Ser feliz, sim!
(Objectivos a não perder de vista, na azáfama e correria de cada dia...)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

E é Natal!...


- Menino Jesus, a Terra, este nosso planeta, precisa tanto de um presente de Natal!...

O 1º Período chega ao fim...

2009 foi o ano da aposentação. E, no entanto, a escola continua a ser um dos espaços em que me movo regularmente. As crianças continuam a encher-me de energia e entusiasmo. O meu tempo permanece pautado pelos períodos escolares. O livro mantém-se o meu instrumento de trabalho - agora liberto de programa obrigatório...  


Promover o livro e a leitura - lendo, recontando, explicitando, despertando a curiosidade... Salpicar a leitura de escrita, espontaneamente (se possível e oportuno)... Um projecto in progress


Comecei por três sessões de escrita, no "ano passado" (Maio de 2009). 
Desde 17 de Novembro, realizei nove sessões de histórias de Natal... e outras duas, diferentes entre si, em virtude do público-alvo (numa, 4-5 anos; noutra, adultos). 
Novas experiências acumuladas às de muitos longos anos.




Passo a passo, o 1º Período, isto é, 2009 chega ao fim. 
Com deliciosos momentos. 


Deixo aqui um portfolio de imagens (preservando, necessariamente, a identidade das crianças). Para recordar.






Eis as escolas:
Jardim de Infância Nuclisol (Instituto Piaget - Mirandela)
EB1 nº1 da Cova da Piedade (Agrupamento Vertical de Escolas Comandante Conceição e Silva - Cova da Piedade/Almada);
EB1 de Conde de Ferreira (Agrupamento Vertical de Escolas Anselmo de Andrade - Almada);
EB1 de Casal de Bolinhos (Agrupamento Vertical de Escolas de Azeitão);
EB1 de Vendas de Azeitão (Agrupamento Vertical de Escolas de Azeitão);
EB 2.3 D. António da Costa (Agrupamento Vertical de Escolas de D. António da Costa - Almada)


A Leonor (Professora Bibliotecária de Azeitão) publicou...:
http://palavras-partilhadas.blogspot.com/2009/12/uma-historia-de-natal.html

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Declaração Universal dos Direitos Humanos













A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pela ONU, em 10/12/1948 (há 61 anos), na sequência do fim da II Guerra Mundial.


Esta Declaração pretendia ser um ideal comum a todos os povos e todas as nações, através da adopção de medidas progressivas, de carácter nacional e internacional, que assegurassem o seu reconhecimento e a sua observância universal. 
Muito tem sido feito. Muito há por fazer.

Temos Declaração; para quando o cumprimento integral dos Direitos?!...

Pela paz, pelos direitos humanos...

Bob Dylan, nos idos anos 60, com 21 anos, cantando pelo fim da Guerra do Vietname - esta canção que se transformou num hino pelos direitos civis:


«How many roads must a man walk down 
Before you call him a man? 
Yes, "n" how many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand? 
Yes, "n"  how many times must the cannon balls fly
Before they´re forever banned?
The answer, my friend, is blowin´ in the wind
The answer is blowin´ in the wind.  


How many years must a mountain exist
Before it´s washed to the sea?
Yes, "n" how many years can some people exist
Before they´re allowed to be free?
Yes, "n" how many times must a man turn his head
And pretend that he just doesn´t see? 
The answer, my friend, is blowin´ in the wind 
The answer is blowin´ in the wind.  



How many times must a man look up
Before he can really see the sky?
Yes, "n" how many ears must one man have
Before he can hear a people cry? 
Yes, "n" how many deaths will it takes till he knows
Too many people have died?
The answer, my friend, is blowin´ in the wind 
The answer is blowin´ in the wind.»  






sábado, 5 de dezembro de 2009

«Rumo à Ciência», no Jardim de Infância


Há meses atrás, contactaram-me. O telefonema vinha do nordeste transmontano, onde um projecto de motivação para a Ciência, destinado aos mais pequenitos,  ganhara forma. Confiavam em mim para escutar, opinar, sugerir... E assim sucedeu. 
As histórias, claro, não podiam deixar de ser adicionadas ao projecto.


Não me esqueci da sugestão feita. E, entretanto, fui procurando obras, em prosa ou em verso, em torno da natureza ou sobre engenhocas e inventos que, enfim, me parecessem adaptáveis à faixa etária dos 4-5 anos e dos temas científicos que se poderiam abordar num projecto com este cariz (sabendo eu bem que não sou perita nem nas Ciências nem no trabalho com esse público-alvo). 


Reuni, no entanto, uns tantos livros que me pareceu poderem ser úteis, de algum modo.


Numa recente e curta viagem lá acima, a bagagem ia reforçada com o resultado dessa despretensiosa e empenhada busca que, por sinal, logo começou a servir. 




Tudo se conjugou para que, no dia 30 de Novembro, eu fosse prestar uma colaboração à professora do Ensino Superior, Cristina Pinto, no «Rumo à Ciência»,  e que, em paralelo com a temática das estações do ano, com o Outono e as suas tonalidades quentes a darem espaço à criatividade, eu fizesse a minha estreia em promoção da leitura, na "Pré-Primária"...





Doze meninas e meninos que se mostraram muito participativos e sempre atentos a uma história da autora Manuela Alves, da Editorial Caminho, Salpico - alcunha de uma criança que cresceu com os avós, numa quinta onde vivia tranquilo e livre, e que um dia foi viver junto dos pais e irmãos, numa cidade barulhenta e apressada... sujeito a uma adaptação difícil, mas conseguida (como é próprio de uma qualquer história... e da vida!)...


Os pequenitos demonstraram e afirmaram gostar... e eu também.