sexta-feira, 29 de maio de 2009

Escutando Glenn Miller...



Glenn Miller nasceu nos Estados Unidos, há 105 anos (1/3/1904). Tocava trombone, na era do swing, e dirigiu famosas "big band", entre 1939 e 1942.
Ingressou no exército americano durante a II Guerra Mundial e dirigiu a Orquestra da Força Aérea.
Morreu jovem, em 1944, num dramático acidente aéreo.
Há quem afirme que ele foi o paradigma da música popular do seu tempo.

Esta postagem pretende ser uma homenagem...

sábado, 2 de maio de 2009

Foi baptizado, o Tomás...

Logo para começar, tropeço no título. Baptizado ou batizado? Com "pê" ou sem ele?... Opto pela convenção anterior ao novo acordo ortográfico, com consoante muda, mas muito viva e cheia de História. Vendo bem, o acordo não entrou ainda em vigor. Infelizmente, não irá resolver a uniformidade da língua portuguesa no mundo, o que seria a sua mais-valia. Adiante.


Salto prontamente para a personagem principal: o mais novo membro da família, o Tomás. Com apenas quatro meses, reuniu em torno de si, numa bonita igrejinha de Setúbal, meia dúzia de crianças e três dezenas de familiares e amigos, todos animados para assistir ao seu baptizado.

Que ganhou ele com o seu baptismo? «Ficou livre do "pecado original", passou a ser membro da comunidade cristã e tornou-se filho de Deus, a quem, doravante, pode chamar Pai.» - esclareceu o jovem padre.

Este, realmente jovem, seguiu criteriosamente, um a um, os rituais da cerimónia do baptismo e preparou cuidadosamente o seu sermão. Foi explicando, com rigor, a razão de ser de todo o habitual cerimonial. Apimentou o discurso ao falar sobre a facilidade de se ter um filho, com afirmações ligeiras de quem carece de experiência de vida. Compreensível, lamentavelmente.

Como lhe competia, o senhor padre fez questão de tudo orientar bem como de vigiar o cumprimento de regras, na sua casa de Deus. Intransigentemente. Pregou, literalmente, vários "sermões", com a autoridade de um "magister dixit". Faltou-lhe a bonomia de quem desculpa um atraso, de quem compreende a alegria simples de um encontro há muito esperado, de quem entende o precipitado entusiasmo daquele que se instala num lugar menos próprio para captar o melhor ângulo para uma fotografia, num momento especial...

Esperar-se-ia que ele, na sua igreja, pudesse ser como um pai tolerante e compreensivo ou como um anfitrião que acolhesse simpaticamente as suas visitas. Desejar-se-ia que ele fizesse sentir ali bem todos e cada um; que fizesse crescer em alguns daqueles que raramente o visitam o desejo de lá voltar; que talvez assim aumentasse o "rebanho" cada vez mais disperso por novas igrejas, hoje sediadas em caves, garagens, antigas lojas, velhos cinemas, em espaços mais ou menos nobres, espalhados por este e por aquele mundo fora...

Porquê toda esta debandada, quando tanta gente é explorada por corruptos autodenominados "ministros de Deus"? Talvez por uma fé pouco racional, por uma esperança... Por falsas promessas, talvez... Certamente porque a sua nova igreja os acolhe, os escuta, os faz participar e sentir-se parte de uma comunidade.

Esta velha igreja (em que fui baptizada e educada), por muito que custe admitir, tem de reformular objectivos, repensar estratégias, renovar métodos; formar padres com competências sociais e humanas para novos tempos. Se quiser cativar e acolher.

O Tomás, por enquanto, mantém-se imperturbável perante a aparente carência de bondade divina de um representante de Deus na Terra.

Pachorrento e sorridente, ele aceitou cada ritual do seu baptismo com a boa disposição de um bebé saudável, alimentado e bem cuidado, criado com amor no seio de uma família feliz.

Coerente, o Tomás manteve-se sereno ao longo do agradável dia de festa que a todos proporcionou.
Quando um dia mais tarde vir as suas fotografias, só esta alegria irá ressaltar.
O resto é espuma. Não importa.

Momento de poesia: «Poema à mãe»

No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.


Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.


Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.


Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.


Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.


Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.


Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,

E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!


Olha - queres ouvir-me?
-Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;


Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;


Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...


Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.


Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.


Boa noite. Eu vou com as aves.


Eugénio de Andrade



Podemos ouvir este poema, lido por Nuno Miguel Henriques: